Acolheita de grãos em Mossoró será menor em 70%. Isso implica dizer que faltará produto da agricultura familiar no mercado e também que será preciso buscar reforço em outros Estados, já que a região Nordeste do Brasil passa por momentos delicados em virtude das chuvas esporádicas e espessas. A situação de Mossoró não é boa e os levantamentos iniciais feitos pela Subsecretaria Municipal de Agricultura indicam que a tese de seca verde não procede. “É seca selvagem mesmo”, afirmou Rondinele Carlos, titular da pasta. “A meteorologia fala que choveu 500mm em Mossoró, mas em algumas áreas não chegou a 300mm. Algumas culturas deram certo, mas outras se perderam totalmente”, afirmou ele.
E foi na comunidade rural de Santana que se registrou boa safra de milho e feijão. Lá a chuva foi generosa. Mas no outro extremo da cidade, especificamente na Vila Maísa, a colheita foi zero. E não é só na Maísa que se constata queda na produção agrícola. E tudo é reflexo da redução na vazão dos poços. “Temos sentido isso na vazão dos poços. E é preocupante, pois não temos visto fortalecimento da agricultura familiar”, comentou o subsecretário.
E a preocupação maior se volta à queda na produção agrícola. Até porque, para Rondinele Carlos, quando se tem uma zona rural forte, o reflexo dessa particularidade é sentido nos centros urbanos. Mas quando ocorre o inverso, é sinal de que a situação no meio rural complica também a vida na cidade.
Manter o homem no campo em situação delicada, e por conta da seca, é a tarefa. “Precisamos gerar oportunidades para que o homem permaneça no campo”, disse o subsecretário. Mas como se pode pensar em oportunidades se o que o trabalhador rural mais precisa está em falta, que é a água?
O trabalho que deve ser feito – e está em execução na Vila Maísa –, diz respeito à perfuração de poços. Desde a terça-feira que uma máquina perfuratriz está em atividade na localidade rural. O subsecretário municipal da Agricultura enfatizou que, em ação paralela, a Prefeitura intensifica parcerias com empresas privadas com o mesmo objetivo e em outras áreas da zona rural. Além disso, frisou que o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS) está com trabalho semelhante em 20 comunidades rurais.
Os últimos anos têm sido cruciais em relação à seca. “Temos vislumbrado que o Semiárido tem sofrido”, disse Rondinele, acrescentando que a alternativa que pode ser concretizada é a que já está em andamento: garantir a permanência do trabalhador rural no campo.
Diante das adversidades climáticas registradas em Mossoró, o subsecretário de Agricultura reforçou a tese de que espera a vinda de produtos da agricultura de outras regiões brasileiras. “O Nordeste está seco; uns Estados com mais chuvas e outros com menos”, disse.
Com esse quadro de “seca selvagem” em Mossoró, afirmado por Rondinele Carlos, o repórter perguntou sobre a situação da merenda escolar. É que a Prefeitura de Mossoró adquiri toda a produção dos pequenos produtores rurais que estão inseridos no contexto de associação ou cooperativas. Segundo o subsecretário, não existem dificuldades e a merenda servida nas escolas da rede pública municipal de ensino não sofrerá prejuízo.
“Realmente a agricultura familiar vai para a merenda escolar, mas muitos agricultores fazem seus plantios por meio de poços (irrigação). Não temos percebido queda acentuada da merenda escolar, pois os produtores têm a certeza de venda assegurada. Toda a produção é adquirida pela Prefeitura e isso dá sustentação às associações e cooperativas”, informou, acrescentando que cooperativas e associações vão fazer parte do Conselho Municipal Rural.
Embora tenha dito que a situação da zona rural está problemática em virtude da seca, o subsecretário municipal de Agricultura enfatizou que o real quadro será conhecido somente depois que os técnicos da pasta concluírem seus relatórios. “Estamos com técnicos na área. Os relatórios serão iniciados e até meados de julho teremos um real laudo da plantação e colheita. Essas informações serão enviadas para o Governo Federal”, disse.
As informações que estão sendo coletadas pelos técnicos da Subsecretaria Municipal de Agricultura vão nortear os números relacionados ao seguro-safra. “O laudo é o que dará sustentação ao garantia safra”, disse Rondinele Carlos.
A abertura de novos poços na zona rural, devido à escassez de chuva, é primordial para garantir água ao consumo humano. O subsecretário de Agricultura enfatizou que a chamada “seca selvagem” se confirma a partir da constatação da redução do lençol freático. É que alguns poços já existentes apresentam redução. Algo que é consequente da falta de chuva. A Prefeitura de Mossoró é responsável pelo abastecimento total na zona rural, já que a Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte (CAERN) atende 30% de Mossoró. Especificamente a zona urbana. Cabe ao Executivo garantir água à fatia maior de Mossoró (70%).
O subsecretário municipal de Agricultura reforçou a necessidade de informações, por parte da zona rural. É que, apesar de os técnicos da pasta estarem em campo fazendo a análise que culminará em laudo a ser enviado ao Governo Federal, é importante que os moradores das localidades rurais de Mossoró informem a situação relacionada à falta de água ao consumo humano para que a Prefeitura possa garantir o envio de carros-pipa ao abastecimento de cisternas – individuais e coletivas. O número para contato é o 3315-5180. O horário de funcionamento da subsecretaria vai das 7h às 17h, de segunda a sexta-feira.
Não é só Mossoró que enfrenta problemas com as chuvas espessas e esporádicas. De acordo com informações constantes do endereço eletrônico da Secretaria Estadual dos Recursos Hídricos, 16 municípios do Rio Grande do Norte enfrentam situação calamitosa. O pior quadro é enfrentado pelos moradores da cidade de Tenente Ananias, na região do Alto Oeste potiguar. Lá o açude Jesus Maria José tem capacidade para armazenar 9,6 milhões de metros cúbicos de água e está atualmente com 88,2 mil, o que corresponde a 0,92% de sua capacidade. Ou seja: falta água até para o consumo humano.
Voltando a Mossoró, a situação do reservatório que abastece a segunda maior cidade do Rio Grande do Norte já foi mais complicada. É que a Barragem Armando Ribeiro Gonçalves, localizada na região do Vale do Açu, recebe água também da região do Seridó e de cidades da Paraíba. O reservatório, que tem capacidade para armazenar 2,4 bilhões de metros cúbicos de água está com 44,22% de sua capacidade. Esse percentual já foi bem menor. Com o aumento no volume de água, a produção agrícola irrigada, que chegou a ser ameaçada, não sofrerá qualquer tipo de suspensão na liberação de água da barragem, conforme chegou a ser cogitado pelos técnicos da própria Secretaria dos Recursos Hídricos.
No Alto Oeste, apesar de alguns municípios comemorarem o aumento de volume em seus mananciais, a irregularidade na distribuição das chuvas faz com que na mesma região geográfica existam cidades em que os reservatórios não acumularam água suficiente para a retomada do abastecimento. Por este motivo, o momento é de cautela e de consciência no uso da água. Seja onde possui água disponível ou onde o produto está escasso, a conduta deve ser sempre a do uso racional.
Conforme informação divulgada recentemente pela assessoria de imprensa da Secretaria Estadual dos Recursos Hídricos, permanecem ainda em situação de colapso, as cidades de João Dias, Pilões, São Francisco do Oeste, Luís Gomes, Antônio Martins, Venha Ver, Paraná, na região do Alto Oeste; e Carnaúbas dos Dantas, na região do Seridó potiguar.
De Fato