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sábado, 26 de abril de 2014

CORONEL ACUSADO DE TORTURA DURANTE A DITADURA MILITAR É ASSASSINADO NO RIO DE JANEIRO.

Rio (AE) - Um dos mais notórios torturadores da ditadura de 1964-85, o coronel da reserva do Exército Paulo Malhães foi assassinado no sítio onde morava, em Nova Iguaçu, na noite de quinta-feira. O crime aconteceu pouco mais de um mês após o oficial admitir ter visto e participado de torturas, homicídios e sumiço de corpos durante o regime autoritário, quando integrou a repressão política. Malhães foi provavelmente asfixiado até a morte por três homens que invadiram sua casa e o mantiveram prisioneiro por cerca de nove horas, com a mulher, Cristina Batista, e o caseiro, identificado apenas como Rogério.
ArquivoMalhães confessou crimes ao depor na Comissão da VerdadeMalhães confessou crimes ao depor na Comissão da Verdade

Segundo a viúva, às 13 horas daquele dia, os três criminosos invadiram o sítio supostamente em busca das armas que o coronel colecionava. O casal não estava em casa: foi rendido ao chegar. O caseiro, segundo a Polícia Civil, não teria visto quando os criminosos entraram por um basculante e foi rendido pouco depois de Malhães. Os invasores - portando duas armas curtas e uma longa, um deles de capuz - separaram as três vítimas. O oficial ficou preso em seu quarto, onde seria encontrado morto. Mais duas pessoas que ficaram do lado de fora ajudaram na fuga dos invasores, afirmou uma testemunha.

O corpo do militar foi deixado de bruços, com o rosto sobre uma almofada. Apresentava, de acordo com o delegado, sinais de cianose (marcas azul-arroxeadas na pele), indício de sufocamento. Não tinha sinais aparente de tortura, informou o delegado adjunto da Divisão de Homicídios da Baixada Fluminense, Fábio Salvadoretti, na sede da especializada, em Belford Roxo. Durante o dia, a Polícia ouviu depoimentos de Cristina e Rogério. Ambos deixaram a delegacia no início da noite, em carro da Polícia Civil e sob escolta de policiais armados.

“Não descartamos nenhuma hipótese”, disse o delegado. “Pode ter sido homicídio por vingança e até mesmo latrocínio (roubo seguido de morte), uma vez que foram levados vários pertences da vítima”. O delegado admitiu que as declarações de Malhães às Comissões da Verdade do Rio de Janeiro e Nacional - nelas, o oficial revelou como os torturadores faziam para não deixar vestígios dos corpos, que tinham dedos cortados e dentes arrancados - serão investigadas entre as motivações para o crime.

O tempo todo, de acordo com o delegado, os invasores perguntavam por armas e joia. Após mais de oito horas no sítio, e depois de revirar a casa, os criminosos fugiram com dois computadores, pelo menos três armas antigas da coleção do militar, um aparelho de som, joias e cerca de R$ 700. Rogério e Cristina foram deixados amarrados em outros cômodos. Ela só conseguiu se libertar na madrugada de hoje e chamou a polícia. Os policiais só chegaram de manhã, porque a região, rural e isolada, é disputada por facções criminosas.

Em março, Malhães prestou à Comissão Estadual da Verdade do Rio (CEV-RJ) depoimento em que relatava ter participado de prisões e torturas na ditadura. Disse também que foi encarregado pelo Exército de desenterrar e sumir com o corpo do ex-deputado Rubens Paiva, desaparecido em 1971. Dias depois falou à Comissão Nacional da Verdade (CNV) e reafirmou ter tomado parte em torturas, mas mudou sua versão sobre o sumiço dos restos mortais de Paiva. O corpo desenterrado, segundo ele, não poderia ser identificado como sendo o do ex-parlamentar, por estar em decomposição.

A médica Karla Malhães, mais velha dos cinco filhos de Malhães, disse que a família “está surpresa e não sabe o que pensar” sobre o crime.

*tribuna do norte

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